quarta-feira, 20 de novembro de 2013


Erudição




Erudição

Resultado do trabalho de Linguistas. Organização. Restruturação.Tudo feito com palavras.Há dias afirmei que as palavras têm poder.Ou nós damos-lhes  poder.A algumas.Outras são triviais.Pior ainda há as que são miseráveis.Todas arbitrárias.
Pensando melhor são a expressão  do tempo.Da História.A História conta-nos como os historiadores pensam que o Homem em sociedade tem pensado.Dizem que as suas conclusões científicas estão baseadas em documentos.Verdade.Mas os documentos verbais foram construídos com os códigos alfabético e numérico,seja este último Romano ou Árabe.Assim,aprecem os acontecimentos a e b segundo a visão de x ou y .Com todo o respeito pelo exaustivo trabalho de quem  os escreve .
Voltemos às palavras.Resiliência.Li ,recentemente,um livro que não só explicava pormenorizadamente o significado como apontava exemplos práticos e vividos de "resilientes."A resistência passou de moda.E é menos que o estoicismo.Mas não chega.Porque é passiva.Talvez.Os dias contados,um após outro,em ordem crescente ou decrescente, trazem cada vez mais ,mais complexas e novas dificuldades.Não se resumirá tudo à "crise".Pior.Muito do que nos rodeia é brutal.Com origem em bruto.Não como o simpático eufemismo usado pelos nossos jovens.Violento.Informe.Sabemos que não queremos perder a nossa identidade pessoal.Ao menos essa.Temos que "dar a volta por cima".Mesmo que doa.E pode doer muito.
Resiliência é isto.Uma palavra nova para uma necessidade intemporal.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

                                                                             SUSTO

Senti-me endoidecer.Ou um desespero quase incontrolável tomou conta de mim.Estava tal qual esta imagem!
Saí de casa num dos primeiros dias de Novembro.Dantes prestava-se homenagem às almas que é como quem diz tornavamos ainda mais viva a saudade.O Dia de Todos os Santos.Dos Fiéis Defuntos.Muitos visitavam os cemitérios quase os tornando jardins coloridos.Tantas eram as flores.Outros assistiam a missas.Alguns falavam dos parentes e amigos que tinham partido.Não era culto aos mortos.Não.Era respeito.Um respeito feito de recordações.Tivesse a manifestação que tivesse.O feriado acabou.Resta a consciência de cada um quando fala de amizade e  de amor.No entanto, as necessidades dos vivos reclamam uma ida às compras.Foi quando entrei num supermercado que nem é uma grande superfície.Não é uma catedral de consumo.À entrada ,parei.Estanquei quase aflita.Se fosse véspera de Natal não haveriam mais luzes,mais lacinhos ,mais bolas.Tudo horrivelmente cintilante.Até existiam promoções!Para o S.Martinho que entretanto talvez merecesse umas castanhas e a jerupiga....Pessoas olhavam a abundância ,tendo pouco.Nos rostos uma expressão carregada.Tinha sido bom oferecer uma prenda.Em troca um sorriso aberto ou uma exclamação enfática "como é que sabias que gostava tanto disto"!ou "que boa surpresa!.Gestos e palavras simples .Que foram importantes na vida.No nosso crescimento.Agora estão proibidos.
No meio desta prematura e absurda coloração inquietou-me um barulho estranho.Pois no meio de um corredor, o principal, umas seis jovens dançavam um misto de ginástica tipo step e jazz.Contavam 12,34,56,78,E transpiravam muito.
Dirigi-me à padaria.Pedi à funcionária umas arrufadas.E disse:
-Minha senhora,por favor!deixe-me sair daqui!Depressa!Entregou-me o saco e um olhar que me dizia "eu tenho que ficar"
Corri para a caixa.Nunca a rua me pareceu tão livre,tão serena,tão normal...


sábado, 26 de outubro de 2013

Crianças,hoje,sempre...



Foi este Verão,na praia.Quando O Sol era ardente e as ondas refrescavam corpos suados.Uma amiga pediu-me para escrever uma "estória" sobre uma vaquinha ou uma leitaria.Para crianças.claro!Olhei-a fixamente e julgo que não lhe respondi.Se o fiz,fiz mal.Eu não sei escrever.Além de mais para crianças.
Elas têm tudo ou quase tudo o que perdemos.A força de viver,a fantasia,o choro e a ternura.E tanto mais .Tudo em dose máxima.Tudo autentico.Os anos afastam-nos da verdade com que nascemos.Gostaria muito de tomar nas minhas mãos a dura tarefa de me renivelar a esta fase.Impossível!E é tão maravilhosa!Se dela conservassemos uma memória viva ,completa,lutaríamos ,certamente com maior intensidade para não  a perdermos.Até mais tarde.O mais tarde possível.
Em 1983 deixei-lhes estas palavras:
Foi para ti
que escrevi,
o mais belo poema de amor.
Para ti ,criança.
que és luta e paz
és tudo o que eu não sou capaz!
Que haverá com uma sonoridade tão sentida como as suas gargalhadas?E com o brilho das suas expressões?
Acontece que não temos capacidade de controlar o tempo.Ele foge.E a sua medida não é convencional como queremos supor.Foge sempre. Às vezes  de uma forma lenta ,outras rápida demais.E traz-nos modelos de sociedades.Para cada um a sua "domesticação"Desculpem-me o desabafo!Educar não é domesticar.É um sublime acto de amor.Os sistemas passam com uma demora superior a uma forte rajada de vento mas tão fugazes como ela.Abramos de novo um livro de História e confirma-lo -emos.O Império romano também caiu!
E da nossa conversa à beira -mar que entretanto parecia esquecida ficou a vontade de descobrir a origem das leitaria.Surgiu-me ,então,uma camponesa a puxar uma vaca.No campo,evidentemente!Algures nos arredores de Lisboa.De onde provinha o leite que era vendido à medida.Descobri,também, que a origem dos proprietários era a sua marca de qualidade.Convinha que fossem camponeses.Dos melhores.
A Arte Nova e o Naturalismo acompanharam a divulgação.
Tive alguma dúvida de associar o leite neste contexto.Pensei melhor.Sim!Foi a resposta que encontrei.Materno ou não foi uma das fontes da nossa sobrevivência.Graças a ele temos a possibilidade de nos deliciarmos e respeitarmos o mundo infindável das crianças que nos rodeiam.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Alternativa


As palavras têm poder.Algumas palavras têm poder.Ou cansam.
Começo a sentir dificuldade em ouvir Troika,FMI e crise.São quase sinónimos entre si.Mas são,também,significandos que alargam o seu espaço linguístico.Às pessoas.Aos doentes.Às crianças.Aos pobres.Aos muito pobres.
Talvez fosse melhor não as repetirmos tanto.
A alternativa tem que existir.Onde? Não sei.Há sempre.Em tudo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013



Foi Menção Honrosa ,este ano,em Aviz. Bem-haja  Aca Aviz e o seu director Fernando Máximo!


                                                                       A voz

Era Outono ao fim da tarde.Quando o Sol se escondeu deixou o céu alaranjado.No mar ficou um caminho triste de luz.Pedro sentou-se na varanda a observar a Natureza e os seus caprichos.Desde menino que lhe chamavam poeta.Umas vezes por carinho.Outras por ironia, uma quase mordacidade.O seu olhar era vago.Sentia lembranças felizes,outras ferozes e duvidas...muitas dúvidas.Fechou os olhos e quase adormeceu.O braço caído na cadeira tocou um objecto frio.Estremeceu e pegou-lhe.Era um espelho,oval,um tanto sujo da poeira trazida pela brisa que corria.Olhou-o.Olhou-se.E ouviu não sabia se longe,se dentro de si,esta pergunta:
-Mas afinal o que é a poesia?
- A poesia é o amor,sentido, penetrando a vida já dorida,
ora fechando, ora abrindo maior ferida.
Ódio por amar um tão forte sentir,
que sendo o homem forte é ser temente
pois guarda escondido o poder,a força de uma mente...
Abriu os olhos.Não viu ninguém. Aproximou o espelho.A voz continuava
-Mas afinal o que é a poesia?
-A poesia é também beleza
é agarrar,por momentos,a certeza
é perdê-la sem a segurar
é procurá-la e não a encontrar.
Pedro estava estonteado.Olhou à volta.Não estava a sonhar.Estava acordado no mundo em que sempre tinha vivido.O seu.Recostou-se de novo.A voz ,essa,ouviu-a mais alto.
-Mas afinal o que é a poesia?
Sentou-se num salto.Ele queria responder.Abriu muito os seus grandes olhos negros e disse:
-Eu sei lá!Se eu soubesse definir
deixaria de sentir.
Ser poeta é viver com força, com verdade,
Ser poeta é encontrar o ser profundo,
ser poeta é agarrar o mundo.
Se eu soubesse descrever 
um coração a bater
negando toda a Razão
talvez pudesse um dia 
esclarecer o que é a poesia...
Então, Pedro baixou a cabeceira da espreguiçadeira.Sonhou.O dia ia perdendo a claridade.a lua caminhava lentamente para o espaço iluminando a noite com uma doce claridade.

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Eu queria ser poeta mas não sou!



Eu queria ser poeta mas não sou!
Olho o Universo do mundo que não sei onde nasceu
descubro horizontes na mágoa da saudade
sombras de luz  na palavra  na verdade
imagem do tempo que não aconteceu.
Eu queria ser poeta mas não sou!
guardo em mim uma vida  uma fantasia
incompleta e talvez perversa
que me trai sem eu saber porquê
que cresce se avoluma e me recria
e me transforma quando me atravessa.
Eu queria ser poeta mas não sou!
Queria fazer trocadilhos com notas musicais
matar com eles todo o silêncio escuro
ouvir em cada voz o som mais puro
nas operetas nas operas e nos ais.
Eu queria ser poeta mas não sou!
Ser capaz de discursar sobre o amor
dar-lhe nomes novos  inventados
abrindo o leque até ao infinito
partir da morte tal como aqui estou.
Eu queria ser poeta mas não sou!