quinta-feira, 23 de maio de 2013



Foi Menção Honrosa ,este ano,em Aviz. Bem-haja  Aca Aviz e o seu director Fernando Máximo!


                                                                       A voz

Era Outono ao fim da tarde.Quando o Sol se escondeu deixou o céu alaranjado.No mar ficou um caminho triste de luz.Pedro sentou-se na varanda a observar a Natureza e os seus caprichos.Desde menino que lhe chamavam poeta.Umas vezes por carinho.Outras por ironia, uma quase mordacidade.O seu olhar era vago.Sentia lembranças felizes,outras ferozes e duvidas...muitas dúvidas.Fechou os olhos e quase adormeceu.O braço caído na cadeira tocou um objecto frio.Estremeceu e pegou-lhe.Era um espelho,oval,um tanto sujo da poeira trazida pela brisa que corria.Olhou-o.Olhou-se.E ouviu não sabia se longe,se dentro de si,esta pergunta:
-Mas afinal o que é a poesia?
- A poesia é o amor,sentido, penetrando a vida já dorida,
ora fechando, ora abrindo maior ferida.
Ódio por amar um tão forte sentir,
que sendo o homem forte é ser temente
pois guarda escondido o poder,a força de uma mente...
Abriu os olhos.Não viu ninguém. Aproximou o espelho.A voz continuava
-Mas afinal o que é a poesia?
-A poesia é também beleza
é agarrar,por momentos,a certeza
é perdê-la sem a segurar
é procurá-la e não a encontrar.
Pedro estava estonteado.Olhou à volta.Não estava a sonhar.Estava acordado no mundo em que sempre tinha vivido.O seu.Recostou-se de novo.A voz ,essa,ouviu-a mais alto.
-Mas afinal o que é a poesia?
Sentou-se num salto.Ele queria responder.Abriu muito os seus grandes olhos negros e disse:
-Eu sei lá!Se eu soubesse definir
deixaria de sentir.
Ser poeta é viver com força, com verdade,
Ser poeta é encontrar o ser profundo,
ser poeta é agarrar o mundo.
Se eu soubesse descrever 
um coração a bater
negando toda a Razão
talvez pudesse um dia 
esclarecer o que é a poesia...
Então, Pedro baixou a cabeceira da espreguiçadeira.Sonhou.O dia ia perdendo a claridade.a lua caminhava lentamente para o espaço iluminando a noite com uma doce claridade.

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Eu queria ser poeta mas não sou!



Eu queria ser poeta mas não sou!
Olho o Universo do mundo que não sei onde nasceu
descubro horizontes na mágoa da saudade
sombras de luz  na palavra  na verdade
imagem do tempo que não aconteceu.
Eu queria ser poeta mas não sou!
guardo em mim uma vida  uma fantasia
incompleta e talvez perversa
que me trai sem eu saber porquê
que cresce se avoluma e me recria
e me transforma quando me atravessa.
Eu queria ser poeta mas não sou!
Queria fazer trocadilhos com notas musicais
matar com eles todo o silêncio escuro
ouvir em cada voz o som mais puro
nas operetas nas operas e nos ais.
Eu queria ser poeta mas não sou!
Ser capaz de discursar sobre o amor
dar-lhe nomes novos  inventados
abrindo o leque até ao infinito
partir da morte tal como aqui estou.
Eu queria ser poeta mas não sou!