segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


           
                                                         
 Perdi o nome


Quando tinha seis anos, ou talvez antes ,comecei a aprender dois códigos:o alfabético e o numérico.Disseram-me,então,que serviriam para ler,escrever e contar.Lembro-me que os conheci simultaneamente.O que nunca percebi e nunca me explicaram  foi por que razão para representar a quantidade 1 eram requeridos mais símbolos alfabéticos que numéricos.Depois ouvia:- hum!o que estás a fazer?ou -Hum!Certo!Muito bem!Era quando olhava as pessoas e via que as suas expressões mudavam perante o mesmo som.Coisas que a minha idade de criança não me deixava entender...
Veio o tempo...a reflexão...Comecei a gostar mais das palavras.Tinham sabedoria.Comecei,também,a brincar com elas.Usava-as em vários contextos.Transmitia mensagens tão diferentes...e sorria...
O tempo ia percorrendo o seu imparável caminho.E sem que me apercebesse tinha perdido o meu nome.
Há pouco tempo fui a um hospital privado onde tudo pretende ser super e actual.Perguntei para que gabinete me deveria dirigir já que era a primeira consulta.Indicaram-me um visor electrónico onde apareceria família x,y ou z.Senti uma confusão imensa.Não conseguia estabelecer a relação entre significando e significado.Ia só.Comigo.Mais uma vez tinha perdido o meu nome.O número é,hoje,a minha identidade.Pobre.Muito pobre.Cada pessoa é um ser complexo e singular.Como pode um algarismo tornar-nos únicos entre a multidão.Ela a quem o sinal de infinito não se ajusta.
Fiquei a pensar.Tudo mal?Não pode ser!Não pode estar tudo mal!Impossível!Que estamos numa fase de viragem parece-me indiscutível.O que quero acreditar é que afinal trata -se, apenas, de uma alteração de código...