segunda-feira, 29 de março de 2010

PARTE A TEMPO



Este poema está publicado na revista on line VISITAÇÕES


Parte a tempo
parar é nada
o futuro não acontece
da negação
Parte a tempo
para o diferente
para sonhar
para ser gente
Parte a tempo
o passado não se compra
o futuro não se vende
entende
Parte a tempo
não há explicações
ou confissões
há resultados
não esperados
Parte a tempo
porque o relógio
está certo ao meio dia
por isso
parte a tempo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

NÃO SERÁ PRECISO PERGUNTAR




Tive uma tontura muito grande e fui-me deitar.Tenho estas tonturas desde a minha juventude.Pedem-me para parar.Descansar.Foi o que fiz.Antes,porém, fui à estante buscar um livro para me fazer companhia.Percorri a vista por vários títulos,não que a minha biblioteca seja extensa e por fim retirei "o Rei Lear".Já conheço a obra há muitos anos, quando ainda pela minha idade só estava a recolher sementes que o tempo iria fazer germinar no meu "eu" pessoal e cultural...Por isso,abri ao acaso.Na página vinte e cinco, Lear perguntava às filhas:- qual de vós me quer mais?
Não vejo que hoje essa pergunta seja pertinente.Já aprendemos a conhecer o amor através das suas manifestações concretas,não tanto das palavras belas e ternas que faz brotar da boca de todos.De cada um de nós.
O que me pareceu actual foi pensar no "dote" que oferecemos aos nossos filhos.Não falo do material,das propriedades,do dinheiro,dos bens.Que "dotes" fomos construindo enquanto junto de nós, partilharam a mesma casa, a mesma mesa, a mesma noite, a mesma companhia? Falamos-lhes de Justiça,Honestidade,Verdade,Coragem,Fé,Paciência,Compreensão?Levarão consigo quando partirem para a edificação de uma vida própria a certeza que são fruto de um acto de amor e que os Pais o serão sempre? Parece-me que perguntar se gostam de nós, se não lhes tivermos oferecido toda uma amizade profunda,inteira,sentida,dedicada ,obteremos o silêncio por resposta.Se com eles a tivermos vivido partilhado não será preciso perguntar.

terça-feira, 9 de março de 2010

MISTÉRIO DE UM SEGREDO


Eles eram o par mais apaixonado sobre a Terra.Talvez não fossem.Diziam que guardavam os segredos um do outro.Cada um só tinha revelado metade do seu eu para que a outra metade ficasse desconhecida.Às vezes, até nós não queremos contar a nós, o segredo.Fugimos dele.O que é o maior erro que podemos cometer.Se nos escondemos é porque não queremos conhecer a opinião verdadeira que temos de nós próprios.Os outros não vêm o que realmente somos mas o que parecemos.Com eles não podemos contar...Uma criança,muitas vezes,descobre-nos mais que um adulto,é capaz de ir além da aparência,é intuitiva e sincera.
Ele não lhe contava o segredo porque não queria ser seu escravo.Ela não lhe contava o segredo porque não queria parecer frágil,ficar dependente.Viviam,assim,na ilusão de serem dois seres em completo conhecimento.
Haverá maior mistério que o segredo?Talvez nunca tivessem questionado...


Escrito por JF