quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A saudade deixou de ser (só) nossa


A saudade e o tempo são amigos inseparáveis.O Espaço ,também.
Orgulhosamente,numa Língua rica de léxico como o Português é ,temos guardado como nossa, ,exclusivamente nossa, a palavra saudade .Sentimo-la com intensidade ,sem conseguirmos,na sua análise,identificar um sentimento maior.A saudade é tudo,A saudade contente.A saudade triste.O passado que se torna presente e se projecta.Sim,porque nós não a queremos deixar morrer.
E cantamo-la Deste nosso pequeno país levamos ao mundo a nossa alma no fado e no dolente canto alentejano.Ambos Património Imaterial da Humanidade.Os poetas populares e eruditos ofereceram o que de melhor têm .A musicalidade das suas palavras nascidas da Sabedoria e da Cultura.E escutam-nos.E aplaudem.
Deste nosso pequeno país,há séculos,desenhamos com o leme das nossas caravelas uma Geografia mais exacta.Interligamos conhecimentos e povos.
Agora ,como antes, oferecemos a saudade.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Face

Confesso que ,às vezes, o face me aborrece.
São anúncios a "trapinhos" vistosos e baratos ,apelando à compra que satisfaz a pobre vaidade feminina.E para homem que se cuide também não faltam.Do after-shave,ao perfume,aos exemplos de proeza e força.Que quem pense que o "marialvismo"passou ,julgo que está ligeiramente enganado.Sei que as gerações mais novas desconhecem o termo mas (tristemente)não o conteúdo.
São outras tantas páginas a pedir "um like"...
Depois,ai!depois seguem-se as fotografias de animais "muito queridos e fofinhos".Assim exige a moda da linguagem que os classifiquemos.
De vez em quando, é dito o que queremos e até o que não queremos.O espaço é virtual e o retorno não chega logo.Mas o espaço agita-se,mexe-se... aí aparecem os comentários que suscitam curiosidade e interesse.Mais.Motivam a reflexão.
Este,por exemplo:
You are a produt.
O meu cérebro funcionou fazendo esta ligação rápida:produto,máquina,revolução industrial,fabrico em série.
Respondi: no, we aren't.
Pensei que somos pessoas e com alma,sentimentos,fraquezas e sucessos.Disse de mim para mim:Eu?um produto,que horror!
Pois tive esta contra resposta:Eu sou o produto de amor de uma mãe e de um pai protector.
Senti uma emoção.Doce.Muito doce.Por isso,postei.
That is the sweetest product ,dear friend!
Estava aberto o caminho da reflexão sobre o poder das palavras.Esse poder que nos entranha, ao qual damos forma,o significado.Talvez, de acordo com o que vivemos.Talvez ,de acordo com o nosso Conhecimento.
Tive,então, a certeza que tinha começado a escrever fazendo a pior escolha possível:Confesso.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Afinal o que é a verdade?



O Império Romano,também,caiu!
Foi poderoso,extenso,influente,organizado.
Herodes, não era um nome, era um cargo.Pilatos  foi governador,cobrador de impostos.Estava directamente
dependente do Imperador.
Jesus,ensinava, pregando a sua doutrina de amor e perdão.O povo aplaudiu-O  primeiro,a mesma gente que O condenou ,de seguida.Por isso,foi mandado a Herodes para o julgar.Impotente e indeciso sobre a decisão a tomar reenviou-O a Pilatos,seu superior hierarquicamente.Que lavou as mãos sem que antes tivesse tivesse feito a pergunta:"o que é a verdade?"
Passaram 2014 anos ,quase 2015.A verdade comum,aquela mesquinha ,usada todos os dias, é vocábulo em vias de esquecimento.Ocorre-me a pergunta:-O que é a mentira?Talvez uma "estória "tola,perfeitamente vazia de significado,perceptível aos receptores.
Disse António Aleixo:
Para a mentira ser segura
e atingir profundidade
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
A mentira enquanto puro falseamento não tem alma,não tem vida .É artifício. É fantasia.Reconhecida logo fica na nuvem escura da nossa memória.Minimiza o autor,apenas.Quando tem um pequeníssimo núcleo, este só pode ser verdadeiro.
Esta é uma questão do tempo que atravessamos.Não valerá a pena ouvir tantas afirmações,promessas e comentários.Bastará seleccionar alguns.Depois,analisá-los.Decompô-los. Facilmente se concluirá com alguma astúcia e habilidade o que vale a pena ficar e o que vale a pena esquecer.
Dos Gregos temos ideias,dos Romanos ruínas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Não sei falar de mim

Isto vem a propósito de uns textos que tenho andado a ler.


 Não me vejo. A imagem do espelho deve ser parecida.Só parecida comigo.Quando olho outra pessoa é que tenho a certeza que nunca me verei.Como todos nascemos e morremos sem esta tão simples oportunidade. Aqui ficamos pelo aspecto físico.O corpo sem alma é inerte e inexpressivo pronto a transformar-se noutra matéria.Essa transformação tem vindo a ser alterada pelos hábitos sociais, pelas crenças,por muitos motivos que a Sociologia se não explica,quantifica.Da o mumificação à cremação.Passaram séculos .Caiu o silêncio
 Seremos o que julgamos ser? Acredito que não.
 Falamos de emoções,de afectos e não-afectos
 de amores encontrados ,uns,perdidos ,,outros
de culpa e de erros (pouco)
de conquistas grandes,de coragem
de fraqueza(raramente)
de lágrimas que esperam aplausos ou consolação
que a lágrima sentida secou pela dor
da saudade contente e da saudade triste
que a saudade autêntica é muda
das recompensas com caixas de chocolates
dos amigos que não são amigos
que os amigos a sério não  são tema de conversa
do trabalho que gostamos
do que gostariamos e não realizamos
de alguns sonhos(fantástico!)
de perdas (pequenas),de desilusões
Falamos muito.Demais.Sem dizer  coisa alguma.
Pedimos ajuda à memória
e a lista vai-se alargando...
Então?
Seremos apenas um "eu"'?
Ao longo da vida somos o que os outros dizem que somos.
Oh ,pá eu conheço-o/a muito bem
Como ninguém!
e assim cada um
 se multiplica.

domingo, 28 de setembro de 2014

Movimento e inércia


Movimento e inércia.Mas inércia não é imobilidade.Porque esta pode ter um colapso,dela pode acontecer um qualquer movimento.Tudo isto porque há dias sofri um pequeno acidente que me obrigou "a parar".Não tanto quanto deveria,tanto quanto o indispensável.Diz a sabedoria popular que "parar é morrer".Talvez aparentemente.Aqui reside o mistério da morte.Se a matéria física que somos se transforma não pode ficar estática.Se cremos que a vida continua,se nós continuamos nós,teremos outras capacidades desconhecidas.No espaço que nos foi dado,como no tempo,julgo que é importante aproveitá-los como e onde é possível.Nas férias de Verão(apetece-me tanto ir buscar um smile,eu que estou de férias vitalícias),comprei alguns livros.Livros são uma das minha paixões.Comprei-os em livrarias e em alfarrabistas.Abundavam as feiras e os ambulantes ,também.Uns verdadeiros,outros falsos que as livrarias têm que sobreviver à crise da não-Cultura.
E li:"Para o homem vulgar sentir é viver e pensar é saber viver.Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.(Fernando Pessoa).
Reflecti nas suas palavras.Na sua afirmação.
As palavras são comuns,usadas por todos nós.Penso que os génios buscam mais a simplicidade que a erudição.As suas ideias partem da vida e da sabedoria.Da observação.Da reflexão.
Não contrariando Pessoa,quem sou eu?sentir é viver.Pensar uma quase técnica para desembaraçar os" nós "dos momentos.Só sentir aperta mais e mais os" nós".
Afinal ,uma palavra ,começo de uma frase,pode ser o princípio e o fim de profundo pensamento.De muitos pensamentos.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O conto de cada um...

Foi Menção Honrosa ,este ano.
Tema: Ser pobre

Bem-haja amigo Fernando Máximo por tantas iniciativas em actividades Culturais!
Obrigada,Avis!

O Mundo está pobre.Não que a Natureza não tivesse dado bens em abundância.Chegariam para todos e ainda sobrariam alguns cestos.O Criador não quis a Humanidade sequiosa .De nada.E,por isso,colocou oásis no deserto onde brota água e a verdura fresca das palmeiras.Jesus que afirmou,dizem as escrituras,|que nada que vem de fora prejudica o Homem.O mal vem em sentido inverso:nos sentimentos e vontades que geram acções destruidoras.O desejo quase ganancioso do poder,de desenvolvimento desenfreado,entra em nossas casas,diariamente,através dos meios de comunicação.Em nome do Progresso,das Finanças equilibradas e da Economia próspera,as imagens de pobreza gravam-se na nossa memória.Como se pertencessem a alguns.E são de todos.
Lembremo-nos dos idosos carenciados de conforto e de carinho.Das crianças abandonadas,tratadas com violência,vendidas,negociadas.Como Job ,a pele colada aos ossos.Dos deficientes,olhados com indiferença porque a suas vidas,não produzem riqueza,não dão lucro calculado.Dos fumadores de "ganza"à injecção de heroína procurando um riso sem razão,uma alucinação sem controle.
A Terra foi dividida administrativamente.Algumas vezes contrariando a Geografia.As sociedades foram constituindo as suas próprias Culturas.Culturas de costas voltadas.A governação não olha o real.Nos gabinetes debitam-se teorias,escrevem-se discursos,inventam-se fraudes,corrompe-se e lapida-se o Património.O povo revolta-se.Mata e deixa-se morrer.Há luto,ritos e lágrimas.Formam-se filas para obter pão,alimentos.
Estamos no sec XXI.
Neste tempo,  a ignorância alastra,a falsificação é aplaudida e a incompetência esconde-se sob a forma de poder.
Diz-se que vivemos a era da globalização.Melhor seria chamar-lhe da informação,facultada pelas novas tecnologias.A solidão opõe-se à solidariedade.É preciso ter uma coragem hercúlea para ser diferente.
Falsear factos é criar dúvida.Não a dúvida pensada por Aristóteles para  desenvolver o Conhecimento.A dúvida que satisfaz o egoísmo e maltrata os outros.A máscara é posta como se de teatro se tratasse.Institucionalizaram-se duas versões:a profissional e a pessoal.Tudo em nome do bem comum.Do reconhecimento da inteligência.
Estamos numa viragem da História.Diz-se.A mudança é fundamental,argumenta-se.
Só a Arte recria.Por isso,desvaloriza-se.Cultiva-se o "talvez " e o "relativo".E rola-se num passado feito presente,incapaz de projectar futuro.
Estamos pobres.Somos pobres.Todos.

domingo, 6 de abril de 2014

No conforto da touca ou quando a memória nos invade



Na passada sexta-feira entrei e fiquei na cidade sete do Utopias 2014.Chamava-se a cidade "Traços com que me escrevo"...

Era o tempo que passava sobre Janes.Era esse o seu nome como poderia ser outro qualquer.Talvez fosse noite.Ou fim de tarde.Um momento.Aquele em que o cansaço invade o corpo.Por isso Janes ou outro nome qualquer se reclinou sobre a mesa e apoiou a cabeça no braço.A memória invadiu-a.Fechou os olhos.Foi,então,que  lembrou o seu tempo de menina.Quando tudo lhe era ensinado.Quando estranhamente,algumas "coisas" que tinha aprendido lhe eram posteriormente proibidas.Tinha começado a entender que a espontaneidade tem limites.As regras.Aceites.Recordou ,também,,a sua adolescência.O encontro.O seu primeiro amor.O  seu primeiro beijo.As recomendações.As proibições.limitações que lhe condicionaram o futuro.Queria ser artista.Mas o que é isso?um sonho louco de alguns.Uma verdadeira utopia.Pediu uma tela e tintas.Pincéis,não.Com os dedos desenharia e daria cor às suas formas e expressões.Não!Não!Não!Palavras que ecoavam pelo espaço.Em todo.E o seu sonho desfez-se num casamento contrato onde o amor tinha ficado de fora.Nasceram filhos.Dois.Nasceram,simultaneamente, obrigações.Como lhe diziam.Conheceu a conformação.Até olhar o espelho e ver o seu cabelo todo branco.Um dia, veio com um neto à Casa das Histórias.Olhou o quadro no "Conforto da touca".E resolveu contar as memórias de Jane ou de outro nome qualquer.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


           
                                                         
 Perdi o nome


Quando tinha seis anos, ou talvez antes ,comecei a aprender dois códigos:o alfabético e o numérico.Disseram-me,então,que serviriam para ler,escrever e contar.Lembro-me que os conheci simultaneamente.O que nunca percebi e nunca me explicaram  foi por que razão para representar a quantidade 1 eram requeridos mais símbolos alfabéticos que numéricos.Depois ouvia:- hum!o que estás a fazer?ou -Hum!Certo!Muito bem!Era quando olhava as pessoas e via que as suas expressões mudavam perante o mesmo som.Coisas que a minha idade de criança não me deixava entender...
Veio o tempo...a reflexão...Comecei a gostar mais das palavras.Tinham sabedoria.Comecei,também,a brincar com elas.Usava-as em vários contextos.Transmitia mensagens tão diferentes...e sorria...
O tempo ia percorrendo o seu imparável caminho.E sem que me apercebesse tinha perdido o meu nome.
Há pouco tempo fui a um hospital privado onde tudo pretende ser super e actual.Perguntei para que gabinete me deveria dirigir já que era a primeira consulta.Indicaram-me um visor electrónico onde apareceria família x,y ou z.Senti uma confusão imensa.Não conseguia estabelecer a relação entre significando e significado.Ia só.Comigo.Mais uma vez tinha perdido o meu nome.O número é,hoje,a minha identidade.Pobre.Muito pobre.Cada pessoa é um ser complexo e singular.Como pode um algarismo tornar-nos únicos entre a multidão.Ela a quem o sinal de infinito não se ajusta.
Fiquei a pensar.Tudo mal?Não pode ser!Não pode estar tudo mal!Impossível!Que estamos numa fase de viragem parece-me indiscutível.O que quero acreditar é que afinal trata -se, apenas, de uma alteração de código...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Do avesso e do direito

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