segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Carta de amor ao vento


Escrevo-te por te ter ouvido.Sussuraste-me de mansinho palavras de amor.Suaves,doces,desejadas.Escutei-te atrás da vidraça do meu quarto.Onde durmo e sonho.Olhei-te intensamente mas não te vi.Procurei-te.Não sabia de onde vinhas nem para onde ias mas passavas junto a mim.Penetravas-me.Até me fazias sentir um arrepio leve tão leve como tu...Quererias levar-me?Eu desejaria ir contigo mas não te encontrava.Só eu tinha ficado.Triste e só.Chamei por ti...O ar estava simplesmente abafado.Ouvia o meu grito parado,ali, junto a mim...e continuei de pé ,junto à janela.Penso que adormeci com a cabeça encostada à parede.Para te esperar,para te espreitar.
Voltaste passados alguns dias com uma força que me assustou.Uivavas com uma fúria de sonora raiva,revolta ou desespero.Voltavas do aveso o que encontravas.Continuavas...indiferente ao teu próprio rasto...Serias vento?Ou serias tu amor e não davas pela minha presença?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A CAIXA DE PANDORA


O tempo está difícil,está bom,tempestuoso ou ameno.Tanta adjectivação para o conhecimento mais absatrato!Teimosamente parece que o desejamos concretizar.Identificamo-lo com os acontecimentos mais marcantes.Simplesmente.Mas hoje é um momento do Tempo que dura vinte e quatro horas,dura o presente...Existe?Talvez.Porque Pandora abriu a sua caixa.Foi apenas um breve instante do hoje...
Essa caixa era maravilhosa,linda!Por fora.Toda feita de ouro reluzente,cravada de pedras,cristais ,rubis e até diamantes.Brilhava muito enquanto fechada.Ela era o ideal e o sonho.
Pandora sabia o que continha e abriu vagarosamente a tampa.Foi ,então, que começaram a sair a violência,a ganância,o poder,a adesão à aparência,o consumo...mas não cairam no chão do nada.
Qual magia,entraram e ocuparam lugar na mente humana.Às vezes,até parece que no coração...Não! Eu acredito.Aí ,há um lugar cativo para o Amor...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

INFINITO DE DEUS



Este poema está publicado na revista (on line) Contra-Corrente


Infinito de Deus o Universo
obra do seu divino pensamento
que não deixa morrer
o ser

Infinito de Deus o Universo
onde cabe o Homem como a vida
que foge num momento

Infinito de Deus o Universo
procura intemporal
de encontro fatal

Infinito de Deus o Universo
finito é o instante
como o passado é distante

Infinito de Deus o Universo
talvez te fale a poesia
num só verso.

sábado, 24 de abril de 2010

O CAPUCHINHO VERMELHO QUE NÓS SOMOS


Já experimentou pedir a um jovem para lhe contar a história do Capuchinho Vermelho?E a um adulto?Se não fez,faça a tentativa!Verá que todos, invariávelmente todos,lhe irão responder que se lembram dela.Irão recontá-la.Segundo a imaginação de cada um,com mais ou menos pormenores.
Pois assim é.Essa menina de capuchinho vermelho,amarelo ou branco,pouco importa,é cada um de nós.Também estivemos no seio familiar.Também nos entregaram uma cestinha cheia de amor e recomendações com a qual partimos para a vida.Parecia um caminho florido onde se ouviria o trinar dos passarinhos.Em alguns momentos terá sido.Mas surgiu o lobo mau,aquele tempo que nos magoa recordar, que nos dói fundo na alma.Tivemos que enfrentar a falsa imagem das nossas avózinhas que iludiram a realidade.E como na versão mais actual, mal seria o nosso se não fossem os caçadores,os nossos amigos que querem matar o lobo!...
Eis por que ninguém apaga da memória esta velha história.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

UM TEMPO PARA AMAR


Reclinada na cadeira de repouso,o Sol batia-lhe na cara a adivinhar a Primavera.Ela fechou os olhos por um instante como a guardar aquele abraço da Natureza que a confortava.Ao mesmo tempo, enlaçava a sua liberdade interior com medo que lhe fugisse.Deixou cair a folha que tinha entre as mãos.
Abrindo a cancela,ele aproximou-se silenciosamente,contemplando-a semi adormecida no meio daquele jardim já florido.
No cimo da folha,um nome.Hiperion.Seria a sua história?Ela quereria desvendar o seu segredo,o seu coração?Hiperion apaixonou-se por Diotima.Diotima acabou triste e abandonada.Afinal o que ele queria era realizar o seu ideal de perfeição espiritual para o devolver ,de novo,à Grécia.Para isso, decidiu tornar-se soldado.Combateu e lutou contra desilusões,imperfeições...Alimentou-se do seu sonho...Acabou por gozar a exaltação da sua própria dor...
Que estranho pensava..como poderá um homem destruir o amor se ele é em si, o mais completo,o mais perfeito,o mais sublime ideal?Como poderá um homem querer atingir o Infinito?Estremeceu com este pensamento.Pressentindo-o ela acordou.Diante de si tinha um corpo para abraçar e uma alma e um tempo para amar...

segunda-feira, 29 de março de 2010

PARTE A TEMPO



Este poema está publicado na revista on line VISITAÇÕES


Parte a tempo
parar é nada
o futuro não acontece
da negação
Parte a tempo
para o diferente
para sonhar
para ser gente
Parte a tempo
o passado não se compra
o futuro não se vende
entende
Parte a tempo
não há explicações
ou confissões
há resultados
não esperados
Parte a tempo
porque o relógio
está certo ao meio dia
por isso
parte a tempo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

NÃO SERÁ PRECISO PERGUNTAR




Tive uma tontura muito grande e fui-me deitar.Tenho estas tonturas desde a minha juventude.Pedem-me para parar.Descansar.Foi o que fiz.Antes,porém, fui à estante buscar um livro para me fazer companhia.Percorri a vista por vários títulos,não que a minha biblioteca seja extensa e por fim retirei "o Rei Lear".Já conheço a obra há muitos anos, quando ainda pela minha idade só estava a recolher sementes que o tempo iria fazer germinar no meu "eu" pessoal e cultural...Por isso,abri ao acaso.Na página vinte e cinco, Lear perguntava às filhas:- qual de vós me quer mais?
Não vejo que hoje essa pergunta seja pertinente.Já aprendemos a conhecer o amor através das suas manifestações concretas,não tanto das palavras belas e ternas que faz brotar da boca de todos.De cada um de nós.
O que me pareceu actual foi pensar no "dote" que oferecemos aos nossos filhos.Não falo do material,das propriedades,do dinheiro,dos bens.Que "dotes" fomos construindo enquanto junto de nós, partilharam a mesma casa, a mesma mesa, a mesma noite, a mesma companhia? Falamos-lhes de Justiça,Honestidade,Verdade,Coragem,Fé,Paciência,Compreensão?Levarão consigo quando partirem para a edificação de uma vida própria a certeza que são fruto de um acto de amor e que os Pais o serão sempre? Parece-me que perguntar se gostam de nós, se não lhes tivermos oferecido toda uma amizade profunda,inteira,sentida,dedicada ,obteremos o silêncio por resposta.Se com eles a tivermos vivido partilhado não será preciso perguntar.

terça-feira, 9 de março de 2010

MISTÉRIO DE UM SEGREDO


Eles eram o par mais apaixonado sobre a Terra.Talvez não fossem.Diziam que guardavam os segredos um do outro.Cada um só tinha revelado metade do seu eu para que a outra metade ficasse desconhecida.Às vezes, até nós não queremos contar a nós, o segredo.Fugimos dele.O que é o maior erro que podemos cometer.Se nos escondemos é porque não queremos conhecer a opinião verdadeira que temos de nós próprios.Os outros não vêm o que realmente somos mas o que parecemos.Com eles não podemos contar...Uma criança,muitas vezes,descobre-nos mais que um adulto,é capaz de ir além da aparência,é intuitiva e sincera.
Ele não lhe contava o segredo porque não queria ser seu escravo.Ela não lhe contava o segredo porque não queria parecer frágil,ficar dependente.Viviam,assim,na ilusão de serem dois seres em completo conhecimento.
Haverá maior mistério que o segredo?Talvez nunca tivessem questionado...


Escrito por JF

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SILÊNCIO


Encontrei-o, sentado numa esplanada, numa cálida tarde de Outono, debruçado sobre um livro. Para ele, as palavras eram doces, ternas, agrestes ou duras.Questionava a sua origem arbitrária e mais ainda se nos julgavamos capazes de fazer uma correcta combinação de sons e com eles transmitir o que de melhor ou menos bom guardamos no mais íntimo do nosso ser.Não se lembrava que não eram elas, as palavras,que corriam no seu pensamento mas o silêncio em que tinha mergulhado,debruçado sobre tantas folhas escritas.O silêncio é como alguém que nunca trai, de onde brota o talento e o carácter, é justo, persuade.Sim, o conhecimento silencioso torna-se maior que o pensamento racional. Só o corpo fala no silêncio. Lembrou-se do olhar da sua mãe, a maior carícia que tinha recebido. Lembrou-se do olhar da sua primeira namorada, timido e audaz ao mesmo tempo. Lembrou-se do olhar sério do seu pai, quando queria pôr termo às suas travessas brincadeiras. Era em silêncio que ele estava, numa especie de comunhão de alma, onde tudo surgia como num caos e depois se ia definindo ou desvanecendo. Ninguém o rebatia com argumentos, tantas vezes, ocos. Encontrava justiça onde não há discursos eloquentes, jogos de xadrez.E, nem dava conta do que se passava à sua volta...Ali, no Chiado,por onde tinha andado Fernando Pessoa, talvez no mesmo café, ele não queria ver ninguém, ouvir o que quer que fosse,ele tinha medo do som das vozes...

Escrito po JF

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

LIBERDADE

A liberdade também é solidão.
Acorrentada ao dia a dia , às rotinas pesadas,num tempo qua parece não ter tempo, corre a multidão anónima,para um amanhã, igual,para uma semana, para um mês, não para uma vida. Aprisionada ao consumo, à aparência, à critica...não precisa pensar,imaginar, criar.Tudo à sua volta parece estar pronto para o imediato.
A arte será o único meio que permite apreender a identidade de sujeito e objecto, de ideal e real, de liberdade e necessidade.É uma força insciente que inspira e entusiasma o criativo, sendo que este, muitas vezes, é ultrapassado pela sua obra a qual não atinge completamente e se constitui como um significado infinito.
Admitindo que a arte é devida a duas actividades diferentes entre si, uma consciente que é a actividade estética,outra inconsciente que é a poesia, a qual não se pode obter pelo exercício, nem se pode aprender. Será, esta última,uma infinidade inconsciente, síntese da Natureza e liberdade. Atingindo, a arte, o Homem total, como poderia, este homem, não estar só?


Escrito por JF

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

UMA NOITE POR LISBOA



Para Ana Maria Henggler
Ana,este poema é todo seu!Um beijinho.


Lisboa à noite
é só...diferente
e nas vielas estreitas
vive gente
encontrei mendigos de carinho
prostitutas a vender a ilusão
"gigolôts"escondidos nas tapadas
e velhinhos pedindo abrigo e pão
Gargalhadas soavam nas mansardas
que o vinho fizera rebentar
as vozes eram muitas abafadas
gritos surdos de uma vida
por contar
Um bêbado cantava numa esquina
uma canção pequenina
as forças esgotadas
as roupas esfarrapadas
Lisboa tem de noite outro sabor
Lisboa tem de noite mais calor
e o Tejo vai beijar
mas esse amor
perdeu -se nas longas madrugadas
deasapareceu...
juntou-se ao mar

Escrito por JF

UMA NOITE POR LISBOA

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


Não sei o que fazer
com esta angustia
que me despedaça a alma
es tu, sim és tu, és tu o culpado
Arrebataste o meu ser
e fugiste numa tarde calma
mas escura
porque era noite
naquela rua
Não te voltei a ver
e espero
neste desespero

Escrito por JF

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

FOI-SE O TEMPO...


Palavras que sussuram
no silêncio
que falam sem dizer
olhar vazio
como o tempo já frio
procuram alguém
que está perto
ou talvez longe
muito além
Gritam ao mundo
sem terem voz
e no seu tom surdo
ficamos sós
Palavras que a música esqueceu
nem gemem
na lágrima que cai
ou na que fica
não gritam
porque a força faltou
não andam...

Foi-se o tempo...já passou.

Escrito por JF

SESSENTA ANOS

Tenho sessenta anos, sabe?
Só uma grande vontade de responder e uma folha de papel branco me pedem para deixar umas palavras sobre a vida.
Em primeiro lugar,amá-la, a ela,a própria.Intensamente.
Tenho sessenta anos, sabe?
Por isso, acredito nesse amor imtenporal e tão forte e doce que abraça numa comunhão ideais, pensamentos,sentimentos, emoções.
Tenho sessenta anos, sabe?
Descobri que aquele objecto horrível a que chamamos relógio anda por aí a controlar o mais belo tic-tac do nosso coração...Deixemo-lo...Há-de esgotar-se...
Se amarmos, amarmos muito, construiremos em cada gesto a nossa "imagem de marca". Marca,sim, a vida.
Tenho sessenta anos, sabe?

Escrito por JF

terça-feira, 19 de janeiro de 2010


PARA TI,MARTIM!

Foi para ti
que escrevi
um belo poema de amor
para ti criança
que és luta e paz
és tudo o que eu não sou capaz

és alegria pura
és vida sem mágoa
semtortura
és dádiva inteira
sem troca
verdadeira
és sonho sem ilusão
és fantasia real
que a nossa mão
pode tocar, pode abraçar
és tudo: o Homem, o Mundo, o tempo teu
que vivido como tu
pode ser também o meu
Ajuda-me a ser a ti igual!
a dar e receber
Ajuda-me a ser a ti igual!
a amar e a viver
Ajuda-me a ser a ti igual!
porque assim vou renascer.

Escrito por JF

domingo, 17 de janeiro de 2010

O TEU OLHAR


O teu olhar
cor do mar
é uma ternura imensa
procuro encontrá-lo
decifrá-lo
o teu olhar cor do mar
de amor calado
tenta segurar o meu
que é teu
o teu olhar cor do mar
não tem ondas de bravura
só tem beijos de ternura
o teu olhar cor do mar
é o resto da minha esperança
o regresso ao tempo de criança
é sentir vontade de viver
desejar
ardentemente envolver-te
num abraço
de corpos abandonados
apertados
e esse laço não se pode desfazer
ficaremos assim sempre
ligados
porque o teu olhar
é cor do mar
´Céline Lhotte escreveu:

"Quem não se arrisca a um fracasso nunca chegará a uma vitória"

O SENTIR DA POESIA


Oh! Mágoa não me deixes
na louca paixão dos momentos únicos
de lutas permanentes
do meu "eu" contra o meu ser

Oh!Mágoa não me deixes só
vive cada minuto do meu tempo
sem dó
forte, violenta, destruidora
arrasadora, sem piedade

Oh!Mágoa não me deixes sem ti
seria incapaz de ter amado
sofrido
entendido
que essa violenta tempestade
que tu és
tece em mim
em cada dia
a emoção o sentir
da Poesia

Escrito por JF
Mark Twain disse:

"Nunca se afaste dos seus sonhos. Porque se eles passarem por si, você continuará a viver, mas terá deixado de existir"

As PALAVRAS SÃO FARÓIS


Sentei-me à beira-mar
olhei o azul da sua imensidão
peguei num livro
abri
e entendi
que aquele cheiro a maresia
era a palavra
que descobre a poesia

Olhei o Sol na sua intensidade
fechei os olhos
e de repente
senti a força da Razão
da Emoção

Vi pescadores lançar anzóis
eram dores
e alegria
nasceu o dia
cheio de sons , ilusões e cores
Peguei numa folha de papel
e escrevi
as palavras são faróis