sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SILÊNCIO


Encontrei-o, sentado numa esplanada, numa cálida tarde de Outono, debruçado sobre um livro. Para ele, as palavras eram doces, ternas, agrestes ou duras.Questionava a sua origem arbitrária e mais ainda se nos julgavamos capazes de fazer uma correcta combinação de sons e com eles transmitir o que de melhor ou menos bom guardamos no mais íntimo do nosso ser.Não se lembrava que não eram elas, as palavras,que corriam no seu pensamento mas o silêncio em que tinha mergulhado,debruçado sobre tantas folhas escritas.O silêncio é como alguém que nunca trai, de onde brota o talento e o carácter, é justo, persuade.Sim, o conhecimento silencioso torna-se maior que o pensamento racional. Só o corpo fala no silêncio. Lembrou-se do olhar da sua mãe, a maior carícia que tinha recebido. Lembrou-se do olhar da sua primeira namorada, timido e audaz ao mesmo tempo. Lembrou-se do olhar sério do seu pai, quando queria pôr termo às suas travessas brincadeiras. Era em silêncio que ele estava, numa especie de comunhão de alma, onde tudo surgia como num caos e depois se ia definindo ou desvanecendo. Ninguém o rebatia com argumentos, tantas vezes, ocos. Encontrava justiça onde não há discursos eloquentes, jogos de xadrez.E, nem dava conta do que se passava à sua volta...Ali, no Chiado,por onde tinha andado Fernando Pessoa, talvez no mesmo café, ele não queria ver ninguém, ouvir o que quer que fosse,ele tinha medo do som das vozes...

Escrito po JF

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

LIBERDADE

A liberdade também é solidão.
Acorrentada ao dia a dia , às rotinas pesadas,num tempo qua parece não ter tempo, corre a multidão anónima,para um amanhã, igual,para uma semana, para um mês, não para uma vida. Aprisionada ao consumo, à aparência, à critica...não precisa pensar,imaginar, criar.Tudo à sua volta parece estar pronto para o imediato.
A arte será o único meio que permite apreender a identidade de sujeito e objecto, de ideal e real, de liberdade e necessidade.É uma força insciente que inspira e entusiasma o criativo, sendo que este, muitas vezes, é ultrapassado pela sua obra a qual não atinge completamente e se constitui como um significado infinito.
Admitindo que a arte é devida a duas actividades diferentes entre si, uma consciente que é a actividade estética,outra inconsciente que é a poesia, a qual não se pode obter pelo exercício, nem se pode aprender. Será, esta última,uma infinidade inconsciente, síntese da Natureza e liberdade. Atingindo, a arte, o Homem total, como poderia, este homem, não estar só?


Escrito por JF

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

UMA NOITE POR LISBOA



Para Ana Maria Henggler
Ana,este poema é todo seu!Um beijinho.


Lisboa à noite
é só...diferente
e nas vielas estreitas
vive gente
encontrei mendigos de carinho
prostitutas a vender a ilusão
"gigolôts"escondidos nas tapadas
e velhinhos pedindo abrigo e pão
Gargalhadas soavam nas mansardas
que o vinho fizera rebentar
as vozes eram muitas abafadas
gritos surdos de uma vida
por contar
Um bêbado cantava numa esquina
uma canção pequenina
as forças esgotadas
as roupas esfarrapadas
Lisboa tem de noite outro sabor
Lisboa tem de noite mais calor
e o Tejo vai beijar
mas esse amor
perdeu -se nas longas madrugadas
deasapareceu...
juntou-se ao mar

Escrito por JF

UMA NOITE POR LISBOA