sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SILÊNCIO


Encontrei-o, sentado numa esplanada, numa cálida tarde de Outono, debruçado sobre um livro. Para ele, as palavras eram doces, ternas, agrestes ou duras.Questionava a sua origem arbitrária e mais ainda se nos julgavamos capazes de fazer uma correcta combinação de sons e com eles transmitir o que de melhor ou menos bom guardamos no mais íntimo do nosso ser.Não se lembrava que não eram elas, as palavras,que corriam no seu pensamento mas o silêncio em que tinha mergulhado,debruçado sobre tantas folhas escritas.O silêncio é como alguém que nunca trai, de onde brota o talento e o carácter, é justo, persuade.Sim, o conhecimento silencioso torna-se maior que o pensamento racional. Só o corpo fala no silêncio. Lembrou-se do olhar da sua mãe, a maior carícia que tinha recebido. Lembrou-se do olhar da sua primeira namorada, timido e audaz ao mesmo tempo. Lembrou-se do olhar sério do seu pai, quando queria pôr termo às suas travessas brincadeiras. Era em silêncio que ele estava, numa especie de comunhão de alma, onde tudo surgia como num caos e depois se ia definindo ou desvanecendo. Ninguém o rebatia com argumentos, tantas vezes, ocos. Encontrava justiça onde não há discursos eloquentes, jogos de xadrez.E, nem dava conta do que se passava à sua volta...Ali, no Chiado,por onde tinha andado Fernando Pessoa, talvez no mesmo café, ele não queria ver ninguém, ouvir o que quer que fosse,ele tinha medo do som das vozes...

Escrito po JF

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